E após as primeiras gotas de aviso, liberta-se o dilúvio. Lá fora, as árvores sacodem-se na violência do vento. Fustigadas pela chuva atirada contra o vidro, as janelas rangem esporadicamente. Aborreço-me, pensando que não posso correr para o exterior para sentir as finas pétalas de pluviosidade no rosto, como fazia em pequena, para desespero da minha mãe. À uma porque me fartei de a ouvir e às duas porque simplesmente o mundo de hoje já não tem aquele encanto de há uma década ou década e meia atrás.
Dou por mim a desejar de volta esse tempo. Sem mágoas, sem ralações, com tantos horizontes ainda por descobrir... Aqueles anos em que o meu maior problema consistia em decidir que desenho-animado veria primeiro. Como o meu mundo era pequeno e feliz! Ao longo da vida acabamos por trocar a felicidade pelo conhecimento (e nem por isso pelo auto-conhecimento), mesmo não nos dando conta. Almejamos sempre a saber mais, a descobrir mais, a conhecer mais e no fim...
No fim, nem a nós nos conhecemos.
O aguaceiro persiste, como que insistindo no chamamento que outrora eu atendia incondicionalmente. Nessa época em que eu tanto adorava brincar, rir, aprender, viver.
Mas desculpa, Chuva... "Hoje não te consegui adorar".
3 comentários:
conhecimento é também felicidade, quantas vezes dá-mos por nós a sorrir por reconhecer certa passagem de livro, certo poema, certa coisa sobre tanta coisa... crescemos, aprendemos, mas dentro de nós fica sempre o desejo das coisas pequenas, o desejo de sair a correr para a rua, sentir a chuva e depois simplesmente abrir os braços e dentro de todo o conhecimento, gritar uma qualquer frase que aprendemos em livros...
;D Estamos poéticas, cara colega, é bom ver comentários desta q'alidade por aqui!
De facto há também essa vertente do conhecimento. Perdoa a autora do texto, porém, por ultimamente não ter dado com ela muito frequentemente. Daí o desabafo "insatisfeito"...
Fica bem e obrigada =D
quanto mais pensamos que sabemos, menos realmente conhecemos...de nós, dos outros, das coisas, do Mundo.
Somos pequenas gotas de chuva com a mania das grandezas.
Mas nunca deixamos de ser nós próprios, por muito que o Mundo insista em nos tentar convencer do inverso.
Ser é difícil... :)
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