sábado, 27 de dezembro de 2008

Vira ano venha outro

Agora que se aproxima o final de mais um ano civil, entramos naquela fase de introspecção e avaliação do que de melhor e de pior tivemos ao longo destes 12 meses. Muitos de nós se dão ao trabalho de comparar 2008 com anos anteriores, notável esforço pragmático de aprender com os erros e triunfos passados. Talvez sejam influências de quem estudou História tantos anos, mas a verdade é que me vou inserindo nesse grupinho triste de auto-avaliadores.

Não vou perder aqui tempo em concretas considerações, até porque as lições que tiramos das nossas vidas fazem jeito é a quem viveu esses momentos mais ou menos felizes. Vou, antes, agradecer a todos os que fizeram deste último ano uma galeria tão rica. Tenho quadros mais sombrios e quadros mais iluminados. E foi com vocês, meus amigos, que os pintei. Quando a tela ameaçava ficar demasiado escura, foram vocês que lhe atiraram pinceladas de cores quentes. Quando a pintura era alegre, ajudaram-me a emoldurá-la, contribuindo para a beleza do quadro. Quando as lágrimas me turvavam a visão, impedindo-me de continuar a pintar, afastaram-nas com gestos carinhosos e deram-me novas ideias sobre o que colorir.
Foram vocês que fizeram o meu ano, de Janeiro a Dezembro. Na faculdade, no grupo de jovens, no círculo mais antigo... Porque são vocês que fazem a minha vida. E são vocês que estão nas melhores recordações. Mas também nas piores, na forma daquele abraço, daquele conselho ou até daquela frase praguejada que me fez rir.
Alguém muito especial entre vós disse-me um dia "nós estaremos aqui para te apanhar quantas vezes caias". Obrigada por essas e por outras promessas, que sempre cumpris. Obrigada por 2008. E venha 2009, com os seus desafios, fracassos e frustrações; não há espaço para medos já que não estarei sozinha nem vós o estareis, porque nos temos uns aos outros...para tudo o que vier.

Feliz Ano Novo a todos!

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

"Ces gens-là", les étudiants

Inspirou-me uma canção do imortal Jacques Brel a reflectir sobre “ces gens là”, os estudantes…Mas não todos os estudantes, que me impede a ainda esperançosa minoria hoje e sempre resistente à estúpida euforia do “viver académico” levado pelos respeitáveis colegas (e que é tudo menos isso mesmo). Falarei, portanto…dos outros. Desses estudantes assim.

Distinguem-se desde logo na arte de acumular livros e apontamentos e notas e lembretes em pilhas de fazer inveja à Torre de Pisa, isto sem jamais lhes tocar, guardando preciosamente a virgindade dos papéis queridos até uma semana antes das frequências. Nas aulas – aquelas em que ainda vão –, esses estudantes assim ousam colocar pertinentes dúvidas, atrevem-se a comentar o que não sabem e o que não se deram ao trabalho de estudar, culpando mais tarde os professores, o azar e a dificuldade das matérias pelo seu augusto espalhanço examinal. Reclamam esses estudantes assim o rasgar de horizontes e o frenético ritmo quotidiano de quem é arrogante o suficiente para se acreditar capaz de acabar um curso com sucesso desbaratando estudos e amizades, adiando investigações científicas e antecipando investigações na excelsa área da enologia ou mesmo da refinada “música” disco, recostando-se em desconhecidas camas alheias como quem se recosta em qualquer banco de jardim: sabendo que daí a umas horas outro estará no seu lugar.
Oh, não meus senhores…Esses estudantes assim, eles não vivem. Eles utilizam a vida como quem utiliza uma prostituta, sem a amar ou respeitar.
E esses estudantes assim…esses estudantes assim, caros leitores, eles são proxenetas entre si. Partilham dessa mesma rameira que é a vida de que se servem. Eles não fazem amor com a vida. Fodem-na.
E não pensam esses estudantes assim no remorso que não tardará. E não pensam esses estudantes assim que acabam por não viver, meus senhores, oh não…de tanto fervor de querer conhecer, experimentar e saber, valor algum se dá seja ao que e a quem for que se tenha.
E não se vive. Passa-se o tempo. Queimam-se verdadeiras oportunidades. Saltam-se os melhores anos da nossa vida comprometendo-se os anos vindouros com a irresponsabilidade do Presente. Que lamentáveis, esses estudantes assim. Que lamentáveis, os profissionais de amanhã.
Saibam viver. Aprendam a viver. E depois, meus colegas, DEPOIS sim, terão calibre para se autodenominarem de estudantes!

sábado, 6 de dezembro de 2008

Reflexões insatisfeitas

*toc toc toc*
E após as primeiras gotas de aviso, liberta-se o dilúvio. Lá fora, as árvores sacodem-se na violência do vento. Fustigadas pela chuva atirada contra o vidro, as janelas rangem esporadicamente. Aborreço-me, pensando que não posso correr para o exterior para sentir as finas pétalas de pluviosidade no rosto, como fazia em pequena, para desespero da minha mãe. À uma porque me fartei de a ouvir e às duas porque simplesmente o mundo de hoje já não tem aquele encanto de há uma década ou década e meia atrás.

Dou por mim a desejar de volta esse tempo. Sem mágoas, sem ralações, com tantos horizontes ainda por descobrir... Aqueles anos em que o meu maior problema consistia em decidir que desenho-animado veria primeiro. Como o meu mundo era pequeno e feliz! Ao longo da vida acabamos por trocar a felicidade pelo conhecimento (e nem por isso pelo auto-conhecimento), mesmo não nos dando conta. Almejamos sempre a saber mais, a descobrir mais, a conhecer mais e no fim...
No fim, nem a nós nos conhecemos.
O aguaceiro persiste, como que insistindo no chamamento que outrora eu atendia incondicionalmente. Nessa época em que eu tanto adorava brincar, rir, aprender, viver.
Mas desculpa, Chuva... "Hoje não te consegui adorar".