sábado, 19 de dezembro de 2009

A cruzada de Cavaco Silva

Estão a ver aquelas coisas que nos chateiam de morte? O preconceito tem essa acção sobre mim. Principalmente quando vem de uma certa pessoa que ocupa um cargo de soberania.
O Sr. Presidente, Professor Cavaco Silva, não tem muito a ensinar aos tugas, tirando o facto de fazer jus à bela máxima "laissez faire, laissez passer", ou não fosse ele um economistinha chatinho. A parte gira é que quando as coisas começam a aquecer e se fala ao amigo Cavaco sobre casamento entre homossexuais, saem-lhe prosaicas declarações, como esta que se segue:
"(...) o papel do Presidente da República deve centrar-se na união dos portugueses. Eu sei muito bem, até como economista, que apenas através da união dos portugueses nós conseguiremos uma mais rápida recuperação económica e criação de emprego".
Um must... Só de mãozinhas entrelaçadas conseguiremos vencer o défice galopante! Visão irónica, Sr. Presidente, já que nem o Parlamento e o Governo se unem.
Mas não interessam os cidadãos que estão a ter um direito fundamental recusado, pois não, Sr. Presidente? E dizia-se o senhor o "Presidente de todos os portugueses"...
Chegando-lhe o diploma às mãos, vai via Tribunal Constitucional, mexem-se uns cordelinhos e está o caldo entornado, diz-se já que é inconstitucional este grande passo que, afinal, vinha era acabar com uma inconstitucionalidade que se arrasta há demasiado tempo.

Porque o Sr. Presidente da República Portuguesa merece estar casado, porque o é com uma mulher! Porque essa senhora procriou com ele! Porque o casamento é para a procriação...! É engraçado notar que não me lembro de em parte alguma do Código Civil ou da Constituição mencionar que os filhos são parte neste contrato. Sim, Sr. Presidente, porque o casamento é um contrato. Por essa lógica, impor-se-ia o divórcio a qualquer casal que não quisesse/não pudesse ter filhos.
Ah, não? Então ponha-se de parte questão tão patética. Assume, todavia, que um casal homossexual é incapaz de cumprir com os deveres decorrentes do casamento (a título de curiosidade, veja-se o art. 1672º CC). O homossexual é incapaz de respeito, porque gesticula muito quando fala, o homossexual é incapaz de fidelidade porque é um pervertido que quer violar meio mundo, o homossexual é incapaz de coabitação, porque tem demasiados sapatos para que o seu cônjuge também caiba na sua casa, o homossexual é incapaz de cooperação e assistência para com o seu cônjuge porque vai estar demasiado ocupado a pensar para que discoteca gay vai nessa noite, portanto não vai poder auxiliar o seu respectivo, nem trabalhar para contribuir para o ganha-pão do lar, porque o homossexual é preguiçoso.
Mas isto parece-nos igualmente ridículo, não é, Sr. Presidente? Até porque se costuma observar tudo isto em milhares de casamentos heterossexuais em Portugal... Então e o Estado obriga essas pessoas a divorciar-se? Não, ainda que não cumpram com os deveres que lhes cabiam. Isto em honra da liberdade dos cônjuges, se querem estar encornados e maltratados, que estejam, como são heterossexuais e até já procriaram uma ou duas vezitas, não há problema.

E está o Estado a armar-se em papá, cheira-nos mas é ao paternalismo do Estado Novo, e a decidir a priori pelos cidadãos gay, ao não lhes permitir o exercício de um direito fundamental em razão da orientação sexual?

Francamente. Dizer que a discussão de um direito fundamental não lhe interessa, Sr Presidente, fica-lhe bem pior que as gravatas horrorosas às riscas de que tanto gosta.

1 comentário:

D. disse...

subscrevo-me totalmente :) quer-me parecer é que o presidente tem inveja de ver os homossexuais em casamentos bem mais felizes do que alguns de heterossexuais